Itaquera batalha para preservar memória

Os moradores de Itaquera, na Zona Leste da capital, começaram a distribuir na semana passada um abaixo-assinado para pedir que o imóvel localizado no número 657 da Rua Sabbado D’Angelo seja tombado. O espaço, que domina um quarteirão e é uma das poucas áreas verdes da região, guarda entre seus muros parte da história de São Paulo e do automobilismo no Brasil.

Foi no casarão que ocupa o centro do terreno, por exemplo, que o empresário Sabbado D’Angelo, antigo proprietário, promoveu, em 9 de julho de 1936, o evento de divulgação do 1 Grande Prêmio Internacional Cidade de São Paulo, realizado três dias depois e fundamental para a criação do autódromo de Interlagos. Essa ligação com o esporte que marcou o passado, porém, pode ameaçar o futuro do local.

“A especulação imobiliária cresceu muito por conta da Copa e do novo estádio. Ouvimos comentários de que essa área será transformada em hotel. Entendo que essa demanda existe, mas há outros espaços. Esse é o único que ajuda a contar a história do bairro”, diz o professor Élio de Araújo da Silva, de 52 anos, um dos divulgadores do abaixo-assinado.

A preocupação ganhou força após um terreno da mesma rua, com dimensões semelhantes e diversas árvores, ser vendido para a construção de um condomínio. “Quando vimos as máquinas, ficamos surpresos. Foi um susto”, conta Élio. “Não queremos que o mesmo aconteça nesse caso. Um bairro e uma cidade sem memória perdem sua identidade”, afirma, com saudosismo.





PROJETOS/  Há três pedidos em andamento para o imóvel. O primeiro, de 28 de junho de 2011, define a área com direito de preempção (dá preferência ao município caso o terreno seja vendido). O segundo, de 30 de junho de 2011, pede a criação do Parque Municipal Sabbado D’Angelo. Ambos foram encaminhados à Câmara Municipal e passaram pela Comissão de Justiça, mas estão parados na Comissão de Política Urbana. Depois ainda precisam passar pela de Administração Pública e pela de Finanças.

O terceiro pedido, de 23 de fevereiro, foi encaminhado à Secretaria da Cultura e solicita que o local seja tombado, mas, segundo a pasta, o “assunto ainda não foi analisado pelo Departamento do Patrimônio Histórico” e não há previsão de quando será encaminhado.

OPINIÕES
“Meu avô foi caseiro e minha mãe nasceu nessa casa. Passei parte da minha infância visitando o espaço, jogando futebol no campinho que havia aí e ouvindo as histórias, como a de um túnel construído ao lado por medo de guerra. A ideia de transformar em parque é boa, mas só se o casarão for mantido”, diz Sidney Romualdo da Silva, de 33 anos.

Leandro Murayama Dorizo, de 31, concorda com o vizinho. “Ainda não estava sabendo do projeto, mas acho uma boa proposta”.  A dona de casa Doralice Alves Medeiro, de 53 anos, tem opinião diferente. “Nasci em Itaquera e entrei no casarão duas vezes. Já ouvi comentários de que foi vendido e no dia em que cortarem essas árvores vou sofrer muito, mas não gostaria que se transformasse em um parque por causa da violência.”

A reportagem tentou entrar em contato com a Sociedade Tradição, Família e Propriedade, dona do prédio, mas não obteve retorno.

Fonte: Rede Bom Dia





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